sábado, agosto 26, 2006

Harpa do prazer e da renúncia

Cântico agrário

Sim, cavador, irmão e camarada:
Pela alegria hercúlea com que doiras
De sol, pelo teu braço, essas espigas loiras,
Entre o rubor de um cântico de foices,
Ao romper da alvorada;

_Pelo suor e lágrimas que dás
Ao grande ventre grávido das messes,
Ao acordar do riso das manhãs;

Pelas horas de dor em que envelheces
Para que o gesto audaz da tua mão
Possa dar a alegria de mais pão;

_Pela ternura que lhe dás e a amas,
A dorida ternura com que a chamas
Ao coração que tens, essa ternura
Que é a tua redenção e sepultura;

_Pela poesia azul com que a embelezas
Entre canções de pássaros e frondes
E bandeiras vermelhas de papoilas
Que dão a cor da tua revolução
Que dão a cor do ardor das tuas rezas;

_Pelo amor que lhe entregas, camarada,
Com que a fecundas, como virgem nua,
No mais amável jeito duma enxada,
Sim, cavador, irmão e camarada,
A terra é tua!

A. Garibáldi


Do livro "Voz Insubmissa" (Braga, 2002)

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