quarta-feira, novembro 18, 2009

LONGE DESDE A NOITE

Voltas rondando caminhos invisíveis,
o vento é a pátria que te acalenta com suas asas de indulgência,
arrecifes de ar para o mar que lança o teu lamento
sobre a noite de teu sonho.

Gravita nevoeiro, seu resplendor contra teu rosto,
o cristal onde vislumbras o fundo do ontem,
os restos de um tempo sem tempo no tremor de tuas visões.

¿Que muralhas derruba tua voz no sigilo da noite?

essa distância que cai como uma tela entre o vazio e a memória ardente dos dias.

¿Que emissária luz convocas desde o jardim insone, abaixo das pedras que resguardan a cor das eneidas?

Semelhante a rumor de fábula,
crescente lume na ombreira deserta,
olhas-te num espelho de fumaçae és a mesma fumaça
que arde ao outro lado do imenso túnel;
vertigem com sabor da pálida maré,
água muda onde ancoraste a árvore de tua misteriosa sombra.

Pedes ao branco que rasgue a sua luz
onde a solidão é o rito acostumado
abaixo o pó dos séculos,
bebes teu copo de medo abaixo da saia dos augúrios,
o aposento mais oculto entre os fios que maquina o destino.

E chegaste pouco a pouco a fundir-te no silêncio,
A ser a cisco que golpeia indiferente,
um corpo de bruma submergido em seu Orión de seco calafrio
com tua manhã envolvida em borbulha imóvel,
último eco de areia passageira.

Pesa em ti a estação da nostalgia,
a demência cinza da tormenta se apodrecendo na boca escura da terra.
¿A quem clamas por este abismo?

Canto mutilado de corvos que perfuram o profundo céu.

Marlene Pasini
Santa Fe México
www.marlenepasini.blogspot.com

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