quinta-feira, abril 11, 2013

"CASTAS" - Marília Miranda Lopes


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Douro Sol Douro Baga
 
Douro Sol Douro Baga
de ouro o Sol e o que traga
este rio diluindo reflexos
gentes
fervura de círculo
substância
movimento em traçado
Douro estado
em romper de sombra
corpo intenso perpetuando volume
vibração de margens
Amiúde o vento abranda
o silêncio cristaliza
a essência das cores
aromas vindimados
suavemente
Então o tempo pára por momentos
O rio é a serpente que atravessa o céu
o céu o rio que se transforma em gente.
 
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Pés Descalços
 
Pés descalços sobre o mosto
essências de segredo
química
substâncias
na profundidade do lagar
 Cânticos telúricos de arrepiar nervuras
 Crentes os que celebram
a emancipação
o vinho novo
anunciação lançada sobre caves
 sob pés e pernas
o fruto
parido em suor
canções que Baco trará
depois das chuvas.
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As minhas mãos
 
Em concha as minhas mãos oferecem
o sabor da titânica
 
paisagem de ranchos
vindimadores numa estreita
 
dádiva
água criadora
serros montes encostas vales
terra lavrada
 
as brancas casarias avistam
o labutar dos membros
os rebanhos a chocalhar
ermas fora
 
O rio abre um sulco navegante
que se ergue em cachões difíceis
como estes braços
 
vergastando machos
que equilibram canastros
recalcados de uvas
 
onde poisam abelhas
pelo melaço.
 
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................................... "Castas" (nº11 dos Q de Vián cadernos)
................................... de Marília Miranda Lopes (Portugal)

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